Com investimento público-privado de aproximadamente R$ 6,7 milhões ao longo de cinco anos, sairá do papel a Plataforma Biotecnológica Integrada de Ingredientes Saudáveis (PBIS), sob liderança do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, envolvendo institutos de pesquisa, universidades públicas, fundação, cooperativa e empresas paulistas.
Alinhada aos objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), a proposta de Núcleo de Pesquisa Orientada a Problemas (NPOP) foi aprovada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) no Edital Ciência para o Desenvolvimento com a missão de integrar os sistemas produtivos e aplicar processos biotecnológicos sustentáveis para produção de alimentos usando matérias-primas nacionais e aproveitando subprodutos da agroindústria.
Outros dois órgãos de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) da Secretaria estão envolvidos na PBIS, o Instituto Agronômico (IAC) e o Instituto de Economia Agrícola (IEA), assim como a Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Escola de Engenharia de Lorena (EEL) e o Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo (USP) e a Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Assis.
Também uniram-se à plataforma a Dori Alimentos, sediada em Marília, a Jacto, sediada em Pompeia, com fábricas na Argentina e na Tailândia e escritórios comerciais nos Estados Unidos e no México, e a cooperativa agrícola Coplana, sediada em Guariba, com filiais em Jaboticabal, Taquaritinga, Dumont, Pradópolis, Batatais e Colina e postos Avançados em Catanduva, Monte Aprazível e Frutal (MG), além da Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia.
Pelo mesmo edital, foi aprovado ainda outro NPOP-IAC liderado pelo Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura, dedicado a biotecnologia em citros, cana e café. Os dois núcleos somam R$ 69,6 milhões em investimentos, sendo R$ 7,240 milhões da Fapesp, R$ 8,47 da iniciativa privada e R$ 53,89 milhões do Estado, incluindo infraestrutura e salários. Já o Instituto de Pesca (IP), também vinculado à APTA, participa do NPOP sediado pela Universidade de São Paulo (USP) com a temática Pescado para Saúde, com financiamento de R$ 3,6 milhões da Fapesp, R$ 6 milhões da iniciativa privada e R$ 14,2 milhões do Estado, incluindo infraestrutura e salários.
Para melhor alinhamento dos profissionais das instituições de pesquisa e ensino envolvidos nos NPOPs, as equipes passaram pelo treinamento de 120 horas em gestão ágil ao longo de seis meses, em que aprenderam sobre as metodologias Design Thinking, MVT (Tecnologia Mínima Viável) e Scrum. Durante a capacitação, foram ainda definidos valores, visão, identidade e missão e elaborado o regimento interno de cada núcleo em conjunto com as empresas parceiras.
“É um modelo de trabalho que existe em outros países considerando a tríplice hélice de inovação, envolvendo governo, pesquisa pública e iniciativa privada, o que tem gerado no mundo resultados mais eficientes e rápidos por considerar as demandas e os problemas do sistema produtivo e da sociedade para concretizar pesquisas e desenvolvimentos.
O setor privado envolvido será beneficiado por estar perto do conhecimento e integrar o comitê executivo e estratégico que direciona as pesquisas”, explica a gestora executiva da PBIS, Gisele Camargo, diretora de Programação de Pesquisa e vice-diretora do Ital.
“Tudo foi pensando para conseguirmos no final tecnologias, produtos e processos que tragam maior competitividade para as indústrias que atuam no setor de alimentos e bebidas, de forma que possam gerar resultados para o País como emprego e renda”, complementa Gisele, lembrando que a grande maioria de ingredientes utilizados atualmente é importada.
A pesquisadora responsável pela PBIS, Maria Teresa Bertoldo Pacheco, que atua no Centro de Ciência e Qualidade de Alimentos (CCQA) do Ital, considera as aprovações um marco na virada do modelo de pesquisa no Brasil.
“A Fapesp foi inovadora nesse arranjo, onde com o apoio do governo permite às indústrias pinçar da academia e dos institutos os conhecimentos que consideram importantes para seu crescimento, diferencial de mercado e atendimento aos anseios dos consumidores”, avalia.
“O arranjo proposto vai ser o fio condutor para construção de uma mentalidade inovadora, com troca de conhecimento e experiências. Trata-se de uma oportunidade de externar as expertises dos pesquisadores dos institutos e de aprender novas tecnologias e métodos de trabalho, além da troca de experiências e networking”, completa.
Motivação e diretrizes
A PBIS foi concebida para atender à tendência mundial da indústria de alimentos em oferecer praticidade, indulgência e ao mesmo tempo nutrição com benefícios à saúde, considerando o crescimento da população e da urbanização com consequente aumento do consumo de alimentos de industrializados.
Também foi levado em conta a falta de acessibilidade da indústria brasileira a tecnologias dominadas por um número reduzido de multinacionais, responsáveis pela maior parte dos ingredientes disponíveis no Brasil.
No mercado nacional, essa demanda é sustentada dentre os principais fatores pelo Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) 2011-2022, pela Estratégia Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade e pela Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN).
O projeto foi construído ouvindo as demandas da sociedade e dos consumidores e os interesses das indústrias parceiras, tendo sido selecionados então institutos e universidades envolvidos em pesquisas científicas relevantes e compatíveis com os interesses levantados, sempre considerando as perspectivas de tendências de mercado alinhadas com propostas de inovação.
“Vamos juntar as competências e atuar com a aplicação em alimentos e bebidas e o escalonamento, passando pela caracterização nutricional, microbiológica e tecnológica, para obtenção de ingrediente competitivo no mercado e que, dentro da matriz alimentícia, atenda a indústria e ao consumidor, garantindo a saudabilidade”, resume a gestora executiva da PBIS, Gisele Camargo, sobre a contribuição do Ital, que terá como parceiras sedes a Unicamp e a USP e como associados o IAC, o IEA e a Unesp.
Da Unicamp, será aproveitada a expertise em processos biotecnológicos, biotransformações enzimáticas e avaliação de compostos bioativos in vitro das pesquisadoras Gabriela e Juliana Macedo, do Departamento de Nutrição da FEA. Pelo IFSC-USP, participa o professor Igor Polikarpov, reconhecido mundialmente por seu trabalho com estruturas de proteínas e bioprocessos, possibilitando a atuação com proteínas doces e fibras como xilooligossacarídeos e frutooligossacarídeos.
Nas áreas de biotransformação e bioprocessos, ainda haverá o suporte da EEL-USP e da Unesp Assis, com os pesquisadores Fernando Segato e Pedro Oliva Neto, respectivamente. Já o IAC contribuirá com a seleção de fontes de matérias-primas viáveis a serem utilizadas e o IEA, com a avaliação da viabilidade econômica.
Segundo a pesquisadora responsável pela PBIS, Maria Teresa, o Ital destinará 268 m2 de área física com apoio técnico e administrativo para a realização e desenvolvimento das diferentes plataformas biotecnológicas envolvidas no projeto. Além disso, todas as áreas técnicas estarão envolvidas, direta ou indiretamente, com equipes bem definidas e treinadas.
“Acreditamos que tanto os pesquisadores quanto as instituições terão maior reconhecimento e projeção nacional e internacional, ocupando lugar de destaque no cenário atual de inovação. Do ponto de vista de recursos humanos, serão abertas novas oportunidades de trabalho através de bolsas, inclusive de pós-graduação vinculadas ao Ital e às universidades”, finaliza.
Próximos passos
Dividido em sete etapas, contemplando toda a cadeia produtiva, o programa de pesquisa será executado através de quatro plataformas de investigação de média e grande complexidades para oferecer substitutos saudáveis e funcionais de ingredientes convencionais. São elas: síntese de lipídios estruturados para redução calórica de alimentos com perfis de fusão e cristalização adequados para aplicação em diferentes tipos de produtos:
· Obtenção de extratos fenólicos a partir de resíduos agrícolas nacionais abundantes com aplicação em alimentos funcionais;
· Desenvolvimento e produção de prebióticos e proteínas doces e suas interações para promoção da saúde humana;
· Novas fontes de proteínas vegetais utilizando pulses para obtenção de farinha de maior teor proteico com funcionalidade tecnológica e nutricional melhoradas para serem substitutas das proteínas animais em sistemas alimentícios.
Na primeira etapa serão sintetizados os compostos saudáveis, por vias biotecnológicas e validação dos métodos. Em seguida, haverá o escalonamento de produção dos ingredientes e o desenvolvimento e readequação de formulações, envolvendo caracterização, avaliação sensorial e estudo de estabilidade dos alimentos desenvolvidos, trabalhos correspondentes à segunda e à terceira etapas.
Já a quarta etapa abrange os ensaios pré-clínicos in vitro e in vivo e na quinta etapa haverá scale up, transferência de tecnologia e estudos de viabilidade econômica. Por fim, a sexta e a última etapas envolverão apoio aos assuntos regulatórios e gestão da propriedade intelectual.
As informações são do Governo do Estado de São Paulo.
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