Manejo que garante maior qualidade e duração, preço, fácil reciclagem e tendência de nichos de mercado favorecem embalagem
O tradicional leite de saquinho, conhecido como barriga mole, o mais consumido no Brasil até o início dos anos 90, foi perdendo mercado nas últimas décadas para a praticidade do produto UHT (longa vida), vendido em embalagens cartonadas, por conta da maior durabilidade e dispensa de refrigeração.
Mas o leite C de saquinho pode voltar a ganhar mercado nos próximos anos, graças a novas formas de manejo, que ampliaram a durabilidade do produto, o apelo ambiental, maior facilidade de reciclagem, e a tendência de nichos de mercado.
Muita coisa mudou na pecuária leiteira nas últimas décadas. Antes, o manejo e a captação do leite tinham menos cuidado. O leite C era extraído manualmente ou mecanicamente e podia ou não ser refrigerado na propriedade.
Hoje, a cadeia logística é toda refrigerada e não existe mais a classificação A ou B, apenas leite pasteurizado, sem aditivos. Com as mudanças no manejo, o prazo de validade do leite pasteurizado, desde que mantida a refrigeração, chega a dez dias e o produto não precisa mais ser fervido.
“Hoje, o leite já sai das tetas da vaca direto para um tanque de resfriamento e é captado na fazenda em até cinco graus”, explica o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios no Estado de Goiás (Sindileite-GO), Alfredo Luiz Correia. Para ele, o que mantém o longa vida é a praticidade.
Antes, a pessoa precisava ir todos os dias na padaria comprar o leite C, que não tinha os processos de hoje, como a refrigeração na propriedade. O resultado era uma proliferação mais rápida de bactérias.
“A Instrução Normativa 51, no final década de 90, e as recentes instruções 76 e 77, criaram padrões de qualidade deste leite em relação à contagem de células somáticas e bacterianas”, conta Alfredo Correia.
Isso foi possível porque o produto é refrigerado ainda na propriedade rural.
“Este leite tem muito mais qualidade em características físico-químicas, por isso se conserva por mais tempo. Melhorou a qualidade da produção”, afirma o diretor do Sindileite.
Enquanto o leite de saquinho pasteurizado é submetido a uma temperatura entre 70 e 72 graus, o que inativa a maioria das bactérias, o ultra pasteurizado (UHT ou longa vida), é submetido a 139 graus.
As sete camadas da embalagem cartonada, também chamada de longa vida, o protegem dos impactos do meio ambiente, ampliando a conservação para até 150 dias. Já o leite pasteurizado de saquinho, conservado em temperatura de até 7 graus, pode durar até dez dias.
“Talvez as indústrias não invistam mais neste leite de saquinho pela logística de distribuição. O caminhão que leva o leite pasteurizado tem de ser refrigerado, o que eleva o custo. A embalagem saquinho é mais barata, mas o custo de distribuição dela é mais caro”, adverte Correia.
Prós e contras
Para o produtor de leite José Renato Chiari, que produz 17 mil litros diários na região de Morrinhos, dois pontos importantes que podem incentivar o maior consumo do leite de saquinho precisam ser considerados. O primeiro é o maior custo das embalagens estilo caixinha ou das garrafas plásticas, o que poderia baixar os preços para o consumidor. Outro ponto é o maior apelo ecológico, pois os saquinhos têm mais facilidade de reciclagem.
Por outro lado, ele lembra que o leite UHT tem sido uma boa alternativa para o Brasil, um país continental, onde nem sempre o consumidor está perto das áreas produtoras e que tem problemas de logística.
À favor do leite de saquinho pesa o fato de as pessoas estarem mais preocupadas com a pureza dos produtos e o leite pasteurizado pode ter um padrão superior de sabor. “Os americanos usam muito o leite de galão e é um produto de alta qualidade pelo cuidado no manejo”, ressalta Chiari. Mas a logística é um ponto delicado no Brasil, pois é preciso ter uma boa estrutura de transporte refrigerado e de refrigeração no comércio.
“Temos um produto de qualidade, mas já ouvimos dizer que algumas padarias desligam a energia à noite para economizar. É preciso logística e refrigeração eficientes”, alerta. Chiari diz que o leite pasteurizado também tem um público específico, que exige um produto diferenciado: “Pelo tamanho do Brasil, UHT ainda é o principal”.
Vinicius Correia, presidente da Comissão de Pecuária Leiteira da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), lembra que alguns laticínios já optaram por envasar até o leite UHT em saquinho. A grande vantagem é o menor custo, pois cada caixinha custa cerca de R$ 0,80 e a tampinha sai por R$ 0,20.
“Considerando um leite vendido por R$ 5, 20% do preço é embalagem”, destaca. Para ele, tudo que pode baixar custo e aumentar a margem da indústria, contribui para melhorar os ganhos do produtor, que hoje recebe entre R$ 2 a 2,60 pelo litro.
Sistemas de captação e pasteurização mais eficientes, com o resfriamento na propriedade, também pesam a favor do saquinho, mas é preciso considerar o custo com refrigeração. “Praticamente não pegamos mais no leite. Ele sai da ordenha e cai num tanque de resfriamento, sem contato humano, o que reduziu muito a proliferação de bactérias”, ressalta.
Outro ponto favorável foi a chegada dos mercados de grandes redes aos bairros, o que facilitou a compra diária do leite refrigerado, antes restrita apenas às padarias. “O produto também ganhou uma pegada ambiental e pode ser nicho de mercado. O leite de caixinha não vai acabar, mas a adesão ao saquinho deve aumentar”, prevê.
Para o presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Sirlei do Couto, uma ampliação do consumo de leite refrigerado exigiria mais gastos com refrigeração e espaços adequados. Além disso, o leite de saquinho é mais difícil de trabalhar porque a embalagem pode furar.
Mas o preço deve ser um incentivo para o aumento da procura. “Observamos que, de janeiro pra cá, o preço do leite de caixinha teve aumento de 5% a 10%, dependendo da marca, e o de saquinho continua estável,”, informa.
Fonte: O popular / EdairNews
Publicado por: nayala
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